1/16/2004

O TELEFONE

O Telefone. Não venho dissertar aqui sobre sua origem ou nada do tipo. Todos já sabem quem o inventou, quando e como. Mas será que sabemos ao certo como essa máquina funciona?! Telefones tem o dom de nunca funcionar como gostariamos. Eles às vezes passam semanas inteiras sem tocar. Ficam lá, inertes. Quando tocam, é engano. É incrível como sempre tem uma pizzaria, uma farmácia, uma delegacia ou uma papelaria com um número parecido com o seu. Na minha casa além desses lugares perguntam se é do SBT.

Quando não é engano é uma tia. Tias sempre ligam. E ligam nas piores horas. Elas esperam ser sábado. Ou feriado. Exatamente nos dias que você pode dormir até tarde. Então esperam mais um pouco, pra ligar bem na hora que sua mãe foi na quitanda, comprar verduras pro almoço. Seu pai, você não sabe onde está. O telefone toca. Você está na sua cama, ainda dormindo. Ou tentando. Você só percebe como o som do telefone é irritante nessas horas. Você se vira, tenta ignorar. O telefone toca mais e mais. E você vai atender. E quando é inverno então? E você tem que sair debaixo da sua coberta? E sempre, sempre acontece. Você atende e desligam. Se você tem escada na sua casa eles vão esperar você subir pra tocar de novo.

Telefones esperam você estar no banheiro pra tocar. Esperam você entrar no banho. Esperam você estar fritando algo na cozinha. Esperam você estar com as mãos ocupadas e não ter como tirar o fone do gancho. Esperam você sair de casa, trancar a porta e jogar a chave na bolsa pra tocar lá dentro. E sempre desligam quando você corre pra atender. À propósito, já repararam que sempre que corremos pra atender o telefone damos com a mão, o pé ou algo do tipo na parede, ou numa cadeira? E sempre dói MUITO?

Então, num belo dia, você está esperando um telefonema. Falam que te ligam pelas 19h00 ou 20h00. O telefone, mais uma vez, está inerte. Até dar 18h45. Ainda não é a pessoa que você espera, você sabe. Mas o telefone toca. É sua amiga. Ela está morrendo de saudades. E tem milhares de novidades pra contar. Vocês vão ficar horas no telefone. Mas você não tem horas. Tem 15 minutos pras 19h00. Você tenta desligar. Após meia hora você consegue. E torce pra que não tenham tentado te ligar ainda. Às 19h30 o telefone toca. Engano. Às 19h50, seu tio pede pra avisar seu pai que não vai pescar. Às 20h15 a vizinha liga avisar que o seu cachorro escapou. E você vai atrás dele. Ele te dá o maior baile na rua e quando você entra no portão o telefone está tocando. Você corre atender. Desligaram. E você deu com seu dedinho na quina da porta, lógico. Às 20h30 você está com seu dedinho doendo, uma baita expectativa e nenhum telefonema. Às 21h00 o telefone toca. É seu tio dizendo que no fim, ele vai pescar. Às 21h30 você vai dormir.

Os telefones nunca tocam quando precisamos. E vocês nunca estão do outro lado da linha quando queremos.