2/27/2004

A saga dos acompanhantes loucos continua

-Quinta feira, dia 26 de fevereiro, 11 e pouquinho da noite.-
Pela primeira vez na minha vida inteira de embarques em ônibus nos terminais consegui pegar o Campolim de primeira. Tive tempo de comprar o passe, andar sossegada até o ponto, subir no ônibus e ainda esperar um pouco até o motorista chegar. Foi só depois de ter conseguido isso pela primeira vez que me toquei que preferia ter perdido aquele ônibus.

-Ônibus Campolim, ainda 11 e pouquinho da noite, assentos centrais.-
Aquilo cheirava vômito. Mas o que eu podia esperar. Dia se-seguinte de Carnaval, no ônibus que faz a linha mais movimentada quando o assunto é sair pra beber. Lógico que tinham vômitado naquele ônibus! O cheiro era insuportável, mas considerando que meu carro também cheirava assim (e nesse caso a culpa foi minha), aguentei. Sinto cutucarem meu ombro. Viro para trás, por educação.

"Com licença, você acha que esse ônibus demora para sair?"
"Acho que não, logo sai!"

Respondi por educação e voltei a olhar para frente. É quando o senhor que havia me feito a pergunta continua.

"Você mora lá no Campolim?"

Bem, ele pode estar apenas atrás de uma informação, pensei. Ele pode ter que ir na casa de alguém e precisar de uma orientação, pensei. Por que não ajudar?

"Moro por perto."
"Ahhh, é que tem gente que vai lá pra sair sabe? Você não sai por lá, nas danceterias?"
"Ahnnn, às vezes..."

O papo começava a me cheirar estranho...

"Mas se você mora lá por perto, você mora na Washington Luis?"

Pronto. Estou perdida. É lá mesmo que eu desço, só falta ele descer lá também!

"Ahn... moro depois..."
"No Campolim então?"
"Ahn... por lá..."
"E você faz o quê? Estuda?"

Era só o que me faltava, outro louco querendo saber da minha vida! De repente me vi com 19 anos, estudando na Unip (A que ponto cheguei!) e morando em algum lugar se possível bem longe da rota do ônibus. Não importa quantos "Ahn"s e "Ahhh!"s eu falasse... ele continuava insistindo no assunto.

"Você tem um cabelo muito bonito, sabia?"
"Ahhh!"
"Você é muito bonita, sabia?"
"Ah... Obrigada!"

Socorro! Maniaco! Louco! Assassino, estuprador, sei lá! Me tirem desse ônibus!

"Você conhece o Sex Shop?"

Ahhhhhhhh!! SOCORROOOO!

"Ahnnn?"
"Eu moro lá."
"Ahhhh!"
"Com minha mulher."
"Ahhh!"

Além de um velho tarado, sem-vergonha ainda, casado e dando em cima de menininhas inocentes! Minha sorte foi que depois disso ele parou. Até que ouvi ele pegando as sacolas no banco de trás. Dei graças pelo ponto dele ser antes do meu, só faltava ele querer me seguir. Ele ficou de pé, dois pontos antes. O ônibus parou em um deles, para um casal descer. O louco ainda me grita lá de trás.

"Não vou descer nesse!!! Não é nesse motorista!!!"

Deprimente...

Ele desceu no ponto dele, eu no meu. Passei pela rua sombria que separa as duas avenidas, a do ponto e a de minha casa. Passei por um carro suspeito, com vozes suspeitas e uma semi-abrida de porta. Acelerei o passo, lógico! Cheguei em frente ao restaurante do lado de casa. Vi que certas pessoas não foram para o Sul, mesmo com todos os agouros. E cheguei feliz em casa.

Noite proveitosa... proveitosa...!